11.8.09

A CIDADE - 3



E a cidade talvez ainda traga consigo suas figuras tarimbadas, carimbadas e clássicas. Nunca ultrapassadas ou obsoletas. No entanto nos novos tempos, esses queridos bigatos da fruta se isolam em nervosas e entediantes tardes de muito sol e dão as caras na cena bar do Jaime numa freqüência semanal de sextas ao entardecer. Dá-lhe costelinha de porco com mandioca e limão, cerveja e papos frenéticos regados a copos americanos vazando espuma fresca de cevada. Óbvio que alguns preferem rabo de galo, branquinha, cinzano ou vodka barata. O que vale e o ritmo frenético adquirido com os movimentos bucais e as conversas mais que fruto-futurísticas em relação à cidade e ao delicioso caos mental adquirido ao logo dos anos. Algo que geralmente transcende o ritual diário e confronta-se com o igrejismo e o bucólico ritmo do grande sítio iluminado. A ex capital mundial do café. O palco cenário das atuas confusões políticas (que a impedem de progredir há praticamente algumas dezenas de anos).
Algumas figuras ali teriam andado com warhol, jagger, dali, bukowski, leminski, hell, verlaine, ramone, smith, belinati, moon, wilson ou talvez seu lucilio lu lu nos tempos em que Álvaro Dias dava as caras na lanchonete Estoril. Vários petiscos frescos, salgadinhos exuberantes e ampolas e mais ampolas de chateau, country wine, vinho natal, mas não guaravera acho... Ali já é um ambiente mais refinado e elegante.
Londrina se transforma em uma Nova Iorque ríspida e decadente e o velho bar Potiguá (agora numa posição mais central e menos semi suburbana) em uma espécie de CBGB/100club pras imaginações mais férteis dos carentes roqueiros punks que um dia tiveram suas 500 ou mais noites de farras, festas, porradas e porres marcados na conta pro final do mês.
Produtores, punks, artistas, arteiros, escritores, figuras na fila da lei de incentivo, junkies, artistas plásticos, poetas, rapazes suaves e mocas do sapato grande também fazem parte da cena, tendo como prato principal a clássica feijoada com vinagrete aos sábados pelo almoço no bar do Jaime. (reprise).
ok, estamos falando da cena. Não se trata da infantil cena hard core melódico da infeliz segunda metade dos anos noventa – começo de 2000, que abriu alas (mal abertas) pra juventude emo-tv... ok, ninguém tem culpa disso, tampouco eu... trata-se de uma cena mais centrada para as noites em que o edifício Centro Comercial treme à sucção das linhas brancas que brilham ali no fundo do prato, na capa do cd, que corre pelas cédulas de dez reais e transforma a cidade em algo mais excitante, abominável e quente, enquanto Lou Reed refresca o imaginário das conversas ininteligíveis através do clássico orelhão vermelho. Mandrake também teve seus tempos de concha acústica, assim como figuras cáusticas que se transformam gradualmente em cidadãos evangélicos de passado negro e boa reputação e bom tom atual. A cidade borbulha e espirra caldos grossos e quentes pelas redondezas do norte do estado.Claro que ninguem nota.
Mas note você agora que a mesma coxinha permanece ali quente e esturricada na estufa por horas, mas sem perder o sabor e o charme. Acrescente molho inglês, especialmente antes da segunda mordida, e sinta a sordidez da carne de frango amarelada, ressecada e saborosa. Fanta acompanha bem.

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