4.8.09

Goemon com maionese




Cachaça, rock e bancha esbanjam o exótico front man no seu primeiro e único álbum de 1985. Lembro de sempre ver esse disco na casa da Cris por anos e anos. Às vezes eu pegava na mão e dava uma lida no encarte interno. Me lembro de talvez ter colocado na vitrola uma vez ou outra. Também lembro dum encarte com letras e ficha técnica. Por onde anda Goemon?
Voltei a pensar nele depois de assistir novamente ao filme “O Invasor”. Não sei por que, mas algo me dizia que o japonês (que canta no karaokê na cena em que o cara vai comprar o revolver no bar na liberdade, na curta participação de Joeli Pimentel) seria sim o próprio Goemon. Um Goemon mais velho, magro e careca cantando de óculos escuros em clima japa-blues porrada.
Provavelmente não estou certo, mas prefiro imaginar todas as possibilidades de um possível retorno desse figura ano universo underground dos karaokes malditos da liberdade japonesa paulistana.
Mas Goemon está de volta. Consegui baixar todas as faixas do LP homônimo e da sua intitulada demo tape 1993. Me lembro desse ano de 93, que me marca por algumas coisas como a primeira cerveja ou talvez a vez que apanhei na Quintino indo ver os Fahrenheit 451 e o Cólera dividirem o palco no Gran Mausoleo, e as primeiras bandas porrada que vi na cidade. A cidade era diferente. A cidade era promissora, assustadora e excitantemente misteriosa.
As noites de chuva eram diferentes quando a cidade se calava pra sempre em noites de domingo. A cidade e seus automóveis já perigosos na noite adolescente e sombria... Mas conforme os anos foram se passando e as estórias se multiplicando, elas acabaram sendo esquecidas e apagadas em curto espaço-tempo. Falta glamour, falta Monroe. Mas Goemon é um profeta que compara Chico Picadinho com Jack The Ripper enquanto Paola prefere cair envolta no fog ao som do Big Ben. Pobre e revoltosa Paola que posa bêbada no Brasil e surge como mulher biônica em algum pais da Europa, trabalhando com homens casados, bêbados e donos de carangos incrementados. Bêbada ou não, Paola incendeia a terceira faixa do disco em tom surpreendente e inusitado. O descartável é bom, diz na televisão... O problema é o lixo né? E por ai vai.
Mas a minha velha cidade se perde em headphones entupidos de Shakira ilusões universitárias e falantes am/fm saturados de lixo, caretice e cruzes enquanto quadrinhos Ze Augústicos são rasgados e levados à fogueira pela nova geração.
Já foi a cidade dos scanners (alguem se lembra do sr. Paulo Troiano e sem programa abrasador em noites de sexta feira?), répteis, punks, putas, junkies, metaleiros, artesãos, vagabundos,travecos, notívagos, artistas, padres e atrizes que mantinham o balaco dos noticiários policiais e das notícias alternativas no polido jornal impresso local, enquanto o café caipira continuava a reanimar os sobreviventes nas fábricas e escritórios da cidade, enquanto o final da tarde não dava as caras pra aliviar o cansaço e reanimar as esperanças de que uma sexta- feira estrelada (londrinenses derretem na chuva) e rebelde logo apareceria dando as caras em tampas de freezers metálicos, bancos plasticos ressecados de bar e garrafas semi geladas de kaiser e Schincariol.
Ricos, famosos e cadáveres tambem enfeitam o horário nobre da televisão enquanto novos anuncios comerciais desfilam novos molhos de tomates com embalagens super praticas e coloridas em seus novos produtos italianados. A cidade também se rendeu a isso. A cidade também foi pra lá conferir tarantela, pomodoro e pomarola. A cidade se rendeu ao elefante da Cica. Também foram tempos de Nissim Miojo e Guaraná Kuat refrescando o efeito do bacon torrado misturado ao tomate frio do cachorro quente do tiozinho da esquina da biblioteca. Uma vez o bujão do carrinho explodiu ali mesmo. Ele se safou. Mas acho que caiu num auto ostracismo depois de uns tempos, mas o sabor jamais será esquecido.Vai maionese fio?

4 comments:

Cidade Cognitiva said...

cara! este Goemon eu conheci em SP, ele é o Rui Mifune, irmão do Gil Mifune que vive no Japão desde os anos 1980 cantando bossa-nova em boates de Tóquio. puta coincidência!

Food Hunter said...
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Danilo Nakamura said...

belos posts, meu caro...
Goemon é nipo-elegância!
coxa com coxa na mesma emoção..

Victor said...

Também assisti ao filme ''O Ivasor'' e tenho quase certeza de que é o Goemon, o Rui Mifune: o nariz do cantor em ''Cidade Oculta'' e do suposto no ''Invasor'' é igual, levemente achatado.
Isso, sem contar a letra levemente pancada da música que é cantada no invasor. Karaoke na Liberdade e a cena do Invasor alá Cidade Oculta revelam que existe algo oculto aí.