19.8.09

15.8.09

Sonhos Agradáveis

Ainda ando por ai ou deito na cama à procura de sonhos agradáveis. Talvez uma fonte barata da felicidade apta a me isolar em alguns pontos ainda frescos e virginais da cidade. Momentos em que a cabeça se isola das paradas de sucesso, das tendências da moda, dos cults em movimento, dos automóveis, dos arrogantes, pretensiosos, fedidos, perfumados, das pessoas chatas e das super legais também. Andamento natural das coisas. Eu preciso desses sonhos agradáveis. Eu preciso fugir e relaxar. Essa freqüência é a mais bem vinda de todas. Principalmente agora.

Todo transtorno necessita ser cessado nesse momento. Que venha à tona as capas de discos, as velharias guitarrísticas, as lembranças dos amigos, os desejos não materiais ou a descontração das falas ornamentais em pontos de ônibus ou salas semi-vazias de escritório. Não posso estar falando tão sério. Talvez não tivesse se não fosse pelo fato de o peso do dia a dia e da solidão humana estar sempre me cobrando isso. O tempo todo. De hora em hora, de minuto em minuto. Principalmente nesse momento. Daí é hora de sonhar e acertar as contas com as coisas boas e puras. Posso estar meio loco pensando assim ou talvez arrumando uma desculpa qualquer pra almejar as coisas, mas simples. Entendo que pode ser isso, mas continuo genuíno no meu ponto de vista. Embromar o subconsciente com sobremesas subversivamente puras e inocentes pode ser um bom caminho pra desativar a pena da solidão. Mas não se trata de melancolia. Talvez apenas um ponto negro que se transforma numa sala escura e que pode surpreender a abertura de uma porta ou janela que vai lhe permitir a entrada ou um pulo a um mundo quadrinístico ou quem sabe fonográfico. Talvez uma estória em quadrinhos recheada por tons verde abacate, vermelho kitsch, cinza e amarelo claro. Quem sabe uma pequena tela em preto branco em movimento também apareça do nada pra refrescar o teor do sonho. Simples e engraçados curtas de cinco minutos e caoticamente mudos. Sem legendas ou mais informações. Daí eu posso me abstrair no segundo minuto e transformar os fatos previsíveis em viagens mais curtas e divertidas. Meu coração dói um pouco agora. São coisas que a vida me proporciona por que eu me jogo nela pra ver o que acontece. A sessão do amor em intermináveis dias e com direito a um retorno confuso e imprevisível... preciso ir agora. Apareça sempre.

11.8.09

A CIDADE - 3



E a cidade talvez ainda traga consigo suas figuras tarimbadas, carimbadas e clássicas. Nunca ultrapassadas ou obsoletas. No entanto nos novos tempos, esses queridos bigatos da fruta se isolam em nervosas e entediantes tardes de muito sol e dão as caras na cena bar do Jaime numa freqüência semanal de sextas ao entardecer. Dá-lhe costelinha de porco com mandioca e limão, cerveja e papos frenéticos regados a copos americanos vazando espuma fresca de cevada. Óbvio que alguns preferem rabo de galo, branquinha, cinzano ou vodka barata. O que vale e o ritmo frenético adquirido com os movimentos bucais e as conversas mais que fruto-futurísticas em relação à cidade e ao delicioso caos mental adquirido ao logo dos anos. Algo que geralmente transcende o ritual diário e confronta-se com o igrejismo e o bucólico ritmo do grande sítio iluminado. A ex capital mundial do café. O palco cenário das atuas confusões políticas (que a impedem de progredir há praticamente algumas dezenas de anos).
Algumas figuras ali teriam andado com warhol, jagger, dali, bukowski, leminski, hell, verlaine, ramone, smith, belinati, moon, wilson ou talvez seu lucilio lu lu nos tempos em que Álvaro Dias dava as caras na lanchonete Estoril. Vários petiscos frescos, salgadinhos exuberantes e ampolas e mais ampolas de chateau, country wine, vinho natal, mas não guaravera acho... Ali já é um ambiente mais refinado e elegante.
Londrina se transforma em uma Nova Iorque ríspida e decadente e o velho bar Potiguá (agora numa posição mais central e menos semi suburbana) em uma espécie de CBGB/100club pras imaginações mais férteis dos carentes roqueiros punks que um dia tiveram suas 500 ou mais noites de farras, festas, porradas e porres marcados na conta pro final do mês.
Produtores, punks, artistas, arteiros, escritores, figuras na fila da lei de incentivo, junkies, artistas plásticos, poetas, rapazes suaves e mocas do sapato grande também fazem parte da cena, tendo como prato principal a clássica feijoada com vinagrete aos sábados pelo almoço no bar do Jaime. (reprise).
ok, estamos falando da cena. Não se trata da infantil cena hard core melódico da infeliz segunda metade dos anos noventa – começo de 2000, que abriu alas (mal abertas) pra juventude emo-tv... ok, ninguém tem culpa disso, tampouco eu... trata-se de uma cena mais centrada para as noites em que o edifício Centro Comercial treme à sucção das linhas brancas que brilham ali no fundo do prato, na capa do cd, que corre pelas cédulas de dez reais e transforma a cidade em algo mais excitante, abominável e quente, enquanto Lou Reed refresca o imaginário das conversas ininteligíveis através do clássico orelhão vermelho. Mandrake também teve seus tempos de concha acústica, assim como figuras cáusticas que se transformam gradualmente em cidadãos evangélicos de passado negro e boa reputação e bom tom atual. A cidade borbulha e espirra caldos grossos e quentes pelas redondezas do norte do estado.Claro que ninguem nota.
Mas note você agora que a mesma coxinha permanece ali quente e esturricada na estufa por horas, mas sem perder o sabor e o charme. Acrescente molho inglês, especialmente antes da segunda mordida, e sinta a sordidez da carne de frango amarelada, ressecada e saborosa. Fanta acompanha bem.

4.8.09

Goemon com maionese




Cachaça, rock e bancha esbanjam o exótico front man no seu primeiro e único álbum de 1985. Lembro de sempre ver esse disco na casa da Cris por anos e anos. Às vezes eu pegava na mão e dava uma lida no encarte interno. Me lembro de talvez ter colocado na vitrola uma vez ou outra. Também lembro dum encarte com letras e ficha técnica. Por onde anda Goemon?
Voltei a pensar nele depois de assistir novamente ao filme “O Invasor”. Não sei por que, mas algo me dizia que o japonês (que canta no karaokê na cena em que o cara vai comprar o revolver no bar na liberdade, na curta participação de Joeli Pimentel) seria sim o próprio Goemon. Um Goemon mais velho, magro e careca cantando de óculos escuros em clima japa-blues porrada.
Provavelmente não estou certo, mas prefiro imaginar todas as possibilidades de um possível retorno desse figura ano universo underground dos karaokes malditos da liberdade japonesa paulistana.
Mas Goemon está de volta. Consegui baixar todas as faixas do LP homônimo e da sua intitulada demo tape 1993. Me lembro desse ano de 93, que me marca por algumas coisas como a primeira cerveja ou talvez a vez que apanhei na Quintino indo ver os Fahrenheit 451 e o Cólera dividirem o palco no Gran Mausoleo, e as primeiras bandas porrada que vi na cidade. A cidade era diferente. A cidade era promissora, assustadora e excitantemente misteriosa.
As noites de chuva eram diferentes quando a cidade se calava pra sempre em noites de domingo. A cidade e seus automóveis já perigosos na noite adolescente e sombria... Mas conforme os anos foram se passando e as estórias se multiplicando, elas acabaram sendo esquecidas e apagadas em curto espaço-tempo. Falta glamour, falta Monroe. Mas Goemon é um profeta que compara Chico Picadinho com Jack The Ripper enquanto Paola prefere cair envolta no fog ao som do Big Ben. Pobre e revoltosa Paola que posa bêbada no Brasil e surge como mulher biônica em algum pais da Europa, trabalhando com homens casados, bêbados e donos de carangos incrementados. Bêbada ou não, Paola incendeia a terceira faixa do disco em tom surpreendente e inusitado. O descartável é bom, diz na televisão... O problema é o lixo né? E por ai vai.
Mas a minha velha cidade se perde em headphones entupidos de Shakira ilusões universitárias e falantes am/fm saturados de lixo, caretice e cruzes enquanto quadrinhos Ze Augústicos são rasgados e levados à fogueira pela nova geração.
Já foi a cidade dos scanners (alguem se lembra do sr. Paulo Troiano e sem programa abrasador em noites de sexta feira?), répteis, punks, putas, junkies, metaleiros, artesãos, vagabundos,travecos, notívagos, artistas, padres e atrizes que mantinham o balaco dos noticiários policiais e das notícias alternativas no polido jornal impresso local, enquanto o café caipira continuava a reanimar os sobreviventes nas fábricas e escritórios da cidade, enquanto o final da tarde não dava as caras pra aliviar o cansaço e reanimar as esperanças de que uma sexta- feira estrelada (londrinenses derretem na chuva) e rebelde logo apareceria dando as caras em tampas de freezers metálicos, bancos plasticos ressecados de bar e garrafas semi geladas de kaiser e Schincariol.
Ricos, famosos e cadáveres tambem enfeitam o horário nobre da televisão enquanto novos anuncios comerciais desfilam novos molhos de tomates com embalagens super praticas e coloridas em seus novos produtos italianados. A cidade também se rendeu a isso. A cidade também foi pra lá conferir tarantela, pomodoro e pomarola. A cidade se rendeu ao elefante da Cica. Também foram tempos de Nissim Miojo e Guaraná Kuat refrescando o efeito do bacon torrado misturado ao tomate frio do cachorro quente do tiozinho da esquina da biblioteca. Uma vez o bujão do carrinho explodiu ali mesmo. Ele se safou. Mas acho que caiu num auto ostracismo depois de uns tempos, mas o sabor jamais será esquecido.Vai maionese fio?