2.2.10

Os "THE SPAGHETTIES"















The Spaghetties - Londrina, jan-1994/fev-1996.


Formação: Humberto Scaburi/ guitarra
Marco Silva/ guitarra
Lucas Ricardo/ bateria
Rodrigo Amadeu/ vocais e baixo


Realmente fica difícil resistir a uma solicitação terrivelmente nostálgica como essa. Algumas pessoas gostam de provocar fantasmas, e eu também sou uma delas, por isso topei a bronca. Ok, posso tentar agora? Aqui vou eu.

Talvez eu deva considerar a minha adolescência em Londrina como algo do tipo "perdido entre o tempo e espaço em algum paraíso jamais esquecido". Eu sei bem que a cidade não é mais a mesma, mas não tenho do que reclamar deste lapso de memória que jamais vai parar de vir à tona em flashes, sons, odores, sabores e sensações, que de vez em quando me surpreendem em regurgitadas involuntárias. Eu sonhava com a cidade de uma maneira e vivia meu sonho, mesmo com ela sendo de outra. E quem se importa?

Todo adolescente tem seus "bruddas", sejam eles mais velhos, ou da mesma geração ou idade. Todo adolescente tem suas piras, fantasias, amores, pitadas exageradas de saboroso ódio e indignação, admirações e ídolos, e talvez um vinil do MC5, dois dos Ramones e um k-7 do N.Y.Dolls... Opa, falei demais!

Conheci três caras na beira do palco do D.C.E e do Gran Mausoleo em Londrina no começo dos anos 90. Isso foi exatamente entre 1992 e começo de 1993, nesse ano eu finalmente fui expulso do colégio após três reprovações - praticamente - seguidas, além de dezenas de idas a diretoria, suspensões e mais alguns detalhes que não vem ao caso. Mas eu juro que nunca explodi banheiro nenhum com bombas ou o diabo que o valha. Eu gosto de outro tipo de barulho. Foram tempos difíceis lá em casa, a coisa novamente não estava fácil pra ninguém na transição pra nova moeda - o Real. Nesse ano, eu com 15 anos, disse para minha mãe que estava afim (sic) de começar uma banda e ela não gostou da idéia, pois era para eu estudar e me esforçar para perder o tempo perdido nos meus últimos anos escolares. A principio não resolveu muito, exceto pelo fato de eu estar finalmente conseguindo clarear a nevoa rebelde que havia tomado conta da minha vida desde, praticamente, o ano de 1989. A vida é cheia de coisas falsas e mal resolvidas, mas com o passar dos anos as coisas vão ficando mais claras, e as pessoas mais hipócritas e poderosas. Danem-se.

Acabei levando minha guitarra e meu pequeno e pesado amplificador Staner para o outro lado da cidade pra tentar um ensaio numa banda que não durou mais que alguns minutos. Caso tivesse dado certo, a formação relâmpago da boteco-promissora “Teenage Depression” teria sido moldada com o Creator na bateria, o Marcelo Galvan (ex-Fahrenheit 451) na outra guitarra, o Fabinho Punk (Depois do Fim) no baixo, além de mim. Alguns minutos de ensaio bastaram pra descobrir, que minha precária técnica e autoconfiança como guitarrista, não se encaixou com a deles naquele momento. Naquela noite de verão, voltei para casa, cansado e frustrado. Talvez ali eu já estava decidido a não me importar tanto com a minha Gianinni Stratosonic. Alguém se lembra do filme “A primeira transa de Johnattan”? Acho que acabei assistindo antes de ir dormir.

Algumas semanas depois, o Marcelo montou o Cyclone Pill com o Duda (ex-Fahrenheit 451) e o Daniel (baterista do Depois do Fim), eu por outras vias acabei sendo convidado para cantar num ensaio da banda de dois irmãos e um primo. Os caras estavam na pira de fazer banda há um tempão, mas ainda não haviam definido nada, contudo já tinham a bateria, e o Lucas não tinha mais que ficar dando baquetadas num velho hack de televisão e numa caixa de papelão como eu escutei falar.

Os Spaghetties aparecem realmente como banda no final de 1994, após meses de ensaios, porres e brigas. Também pudera, a banda era essencialmente formada por três caras da mesma família, com mais um adolescente desbocado e arrogante. A gente também ensaiava no quarto do Marco, em escaldantes tardes de domingo. A barulheira contaminava a vizinhança e o também projeto de igreja "Poço de Água-viva", bem em frente a casa na Vila Brasil. Acho que um "amigo" até pichou, na frente, algo do tipo "Deus não é surdo".

Eu admito que nos conhecemos basicamente indo a shows do Hard Money e outras bandas que tocavam nos eventos promovidos por eles, mas mesmo tendo aquela cena como referência no começo, a nossa vontade era de ser mais Rock and Roll, mais despojado, e não punk no sentido “clichêmático” e, assim, seguir um estilo mais antigo e marginal, menos mistureba. Queríamos trazer de volta as pegadas mais abertas e bem tocadas ou por que não mais suja no sentido visual?

Nosso primeiro show foi numa tarde de sexta-feira no mesmo Colégio onde eu havia sido expulso, um ano antes. Creio que, no fundo, eu precisava trazer algo de volta, dar o troco de alguma maneira menos bíblica. A gente fez acontecer e a estréia foi certeira. Tocamos bem e com confiança. Na platéia do pátio havia somente uma meia dúzia de amigos, mais um monte de gente desconhecida andando pra lá e pra cá. Acho que estava rolando uma gincana, mas uma turma ficou pra ver a gente no pátio do hall de entrada. Ainda éramos uma banda cover, e tocávamos somente Ramones, Sex Pistols e Buzzcocks, talvez também tocássemos The Jam.

A "The Spaghetties" foi, sim, a cria descarada da banda Fahrenheit 451. Eu pensava neles como referencia local assim como nas bandas que a gente escutava. Eu assumidamente não curtia as bandas da época (nem locais nem de lugar algum) e me lembro que os amigos mais velhos sempre nos gravavam fitas incríveis ou emprestavam seus Lps.

Talvez eu tivesse tanto pra falar sobre aquele período excitante da nossa primeira banda, contudo acho que estou falando demais por aqui e o que aconteceu na seqüência é simplesmente outra história. Esse tipo de diversão é sempre suculenta e dolorosa no decorrer dos anos. Ok, isso é Rock and Roll, e Rock and Roll significa arte, por que não liberdade e prisão em forma de devoção e paixão, altos e baixos, brigas, aventuras, trapaças e amigos pra sempre.

Sinceramente, eu duvido que a cidade e algumas criaturas tenham continuado sendo as mesmas.

Acenda o pavio da bomba de cereja.



Rodrigo Amadeu/32 – ex-vocalista e baixista dos "The Spaghetties".

3 comments:

Lado Rock KG said...

Pois é RODRIGO, esta é uma verdade incomparéval: ninguém continua o mesmo, até por que viver é evlouir.Valeu pelo relato. Que bom que vcs estão criando coragem e soltando o verbo.Cada um tem seu gosto e seu estilo de vida. Parabéns,estou postando se link no meu blog Ok? Abração e Long Live Cherry Bomb!!!

Unknown said...

Fala cherogro, blz!
Quanta nostagia hein, na verdade ta meio baitola seu blog... Quando convivemos vc era menos, sensível...acho...
De qualquer forma confesso que invariavelmente leio seus posts, espero ao menos uma citação honrosa do meu nome quando transcrever a história do Cherry, uma vez que fiz parte da banda na sua fase mais trash.
É isso ai
Abraço
Alinor Elias

B-side said...

é bicho isso ja faz tempo heim.......